18 de set. de 2015

Umbanda, Lugar de Gente Forte!


A Umbanda foi no Brasil uma das maiores religiões nas décadas de 1960 e 70 depois do Catolicismo. Baseada nas doutrinas e ensinamentos de Zelio Fernandino de Moraes, se estabeleceu nos costumes e na cultura brasileira de maneira prática e poética numa época em que artistas tinham orgulho de cantá-la na TV e nas rádios. 


Clara Nunes, Gilberto Gil, Vinicius de Moraes, Martinho da Vila, Chico Buarque.. Etc...

A Umbanda, por não ter se tornado intimamente uma religião com escritos a respeito de suas estruturas, mas sim por intermédio de doutrinas orais e arquétipos de suas entidades, teve dificuldades em perceber os riscos de tal expansão social e cultural na sociedade brasileira da época.

Ao se deparar com tamanho crescimento e tão fácil aceitação em um curto espaço de tempo, abriu margem para que muitas pessoas usassem seu nome indiscriminadamente para fazer aquilo que na verdade não era Umbanda. Ajudando assim ao final da década de 70 a Umbanda perder muitos adeptos para as religiões Neopentecostais.

O fato de numa época em que houve acréscimo desordenado de terreiros e tendas, sem o devido suporte e controle de Federações, e que não se tinha mecanismos específicos de esclarecimentos; charlatães apareceram cobrando dinheiro para “fazer caridade”, mistificando entidades e afirmando estarem aqui para efetuar o mal, surgiram casas com costumes "híbridos" de outras vertentes religiosas mas que não deixavam de se auto entitularem “Umbanda” (até porque era a religião da “moda”). Pais de Santo se envolvendo em escândalos políticos de corrupção, entre outros desvios que somados a tudo que apontamos, deram muita margem para que o senso comum, os consulentes e filhos de santo (sem um senso crítico apurado) que não entendiam o que estava acontecendo, e que nem tinham tanto material para pesquisas, olhassem nossa religião a partir daí com muito descrédito...

Muitos foram os abandonos, muitas foram as baixas.

Os neopentecostais passando a mensagem de “salvação e prosperidade” se aproveitaram muito de tal momento histórico e crítico da Umbanda atacando nossas casas e nossas doutrinas, nos acusando dos mais diversos tipos de problemas. Problemas que se formos realmente avaliar, nem eram nossos, mas que acabamos absorvendo a culpa na opinião da massa brasileira.

Pois bem. Com o tempo percebemos que na realidade, todo esse conflito de “apogeu e declínio” acabou fazendo com que os falsos Umbandistas, os fracos e aqueles que não carregavam a fé verdadeira fossem por fim embora. Nos ajudando de certa forma a fazer uma limpeza “necessária” na virada das décadas de 1970/80 para o desenvolvimento teológico da Umbanda.

Muitos "evangélicos-ex umbandistas" dessa época remanescente talvez apenas precisassem ter um lugar para “ouvir o que queriam ouvir” e encontrar quem os ajudassem nas questões materiais e pequenas da vida; e o fato de precisar estudar para entender as questões sociais e históricas que trouxessem melhor elucidação sobre os ocorridos incomodava em muito seus perfis mais apequenados.

No decorrer da década de 80 e 90 a Umbanda teve de passar por muitas transformações, e conseguiu!!!

Pois mesmo com um número reduzido de praticantes e simpatizantes se consolidou tendo entre seus entes pessoas de perfil bravio, aguerrido, que simplesmente sabiam o que estavam fazendo, pra quem estavam fazendo e o porque estavam fazendo.

Muita literatura foi escrita, a arte e a doutrina começaram a se estabelecer de forma mais materializada.

Escritos do Pai Ronaldo Linares, de Rubens Saraceni, Leal de Souza, Diamantino Trindade, Alexandre Cumino, entre outros, começaram a ser impressos com mais frequência e o conhecimento se expandiu, atingindo camadas que antes não tinham acesso a nossa cosmologia.

Se antes a Umbanda estava apenas na periferia, nos últimos 30 anos ela se tornou cosmopolita sem visualizar nível social de ninguém. Ricos e pobres começaram a se encontrar nas mesmas tendas, os preconceitos foram se esvaindo e cada vez mais a Umbanda ganha o respeito das diferentes classes, dos diferentes níveis culturais.

Muito devemos de nossas conquistas dos últimos anos a essa época passada de ápice e declínio, pois com ela nos livramos de muitos homens e mulheres que na realidade não eram Umbandistas, mas sim apenas pessoas fracas sem nenhuma convicção de suas possibilidades, de suas crenças... Aprendemos com os erros!!!

Só que não devemos pensar que sempre haverá a ação do tempo concertando os erros dentro da Religião. Pois se hoje conseguimos colocá-la num patamar elevado socialmente, e cravado de uma vez por todas seu valor dentro da História, então nossa missão primária é mantê-la, é cuida-la, zela-la, não deixar que maus e falsos Umbandistas se aproveitem de alguma forma por estar dentro de uma tenda para arbitrariamente satisfazer seus egoísmos, suas ambições.

Umbanda é lugar de gente forte!!! Forte!

Umbanda é fé, amor, conhecimento, justiça, lei, evolução e caridade, algo a mais do que isso que venha passar mensagens com teor profético e apocalíptico, que se interesse pela maldade, e pela contradição e pelas inversões dos valores de nossas simples doutrinas e rituais, não é Umbanda.

Aprendemos com o tempo e com a força de nossos mestres a amar essa religião, que serviu de bode expiatório para muita gente no passado. Mas que hoje não precisa mais ficar a mercê de preconceitos, mal senso, e ausência de escrúpulos de pessoas que não a entendem.

Somos guerreiros e devemos honrar nossos Orixás sem a fraqueza daqueles que um dia foram capazes de abandoná-los.

Salve a Umbanda!!! Saravá minha Umbanda!!! Saravá a sua Umbanda!!! Saravá a nossa Umbanda!!



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