27 de out. de 2016

O Cruzeiro das Almas na Umbanda











Por: Fernando Ribeiro (Pirro D'Obá)

Sabemos que a cruz é um símbolo antigo, e é possível detectar sua presença de forma religiosa, mística ou esotérica na história de povos distintos e distantes como os egípcios, celtas, persas, romanos, fenícios e índios americanos. É um dos símbolos mais universais da história de nossa espécie.  Ela é encontrada em velhas esculturas da Babilônia, Nínive e em ruínas da Pérsia e da índia. Tem sido utilizada como símbolo muito antes da era cristã, em países então totalmente desconhecidos uns dos outros e tão distantes entre si como a China e o Peru.


Na maioria das religiões com as quais possui conexão, tem sido associada a ideia de vida, de nascimento, renascimento, ressurreição, regeneração. Seu modelo básico traz sempre a intersecção de dois eixos opostos, um vertical e outro horizontal, que puderam em diversas circunstâncias representar lados diferentes como o Sol e a Lua, o masculino e o feminino, a vida e a morte.

É a união dessas forças antagônicas que exprime um dos principais significados da cruz, que é o do choque de universos diferentes e seu crescimento a partir de então, traduzindo-a como um símbolo de expansão.

Ao situar-se no centro místico do cosmos, a cruz assume o papel de ponte através da qual a alma pode chegar a Deus. Dessa maneira, ela liga o mundo celestial ao terreno através da experiência da crucificação, onde as vivências opostas encontram um ponto de intersecção e atingem a iluminação.

Em todo cemitério católico é possível encontrar uma grande cruz no Cruzeiro das Almas, geralmente localizado em uma encruzilhada ou no portão a frente do reduto. Ali é um local sagrado em que os entes daqueles que desencarnaram podem acender velas, fazer orações, súplicas para que as almas sejam levadas a Deus.

Na Umbanda conhecemos o Cruzeiro das Almas como “Campo Santo”, ou “Calunga Pequena”. É para nós um local de passagem, ou ainda, um portal onde o espírito passa de um plano vibratório para outro e o Orixá que rege este campo de ação é Obaluaê.

Nas tendas de Umbanda é possível encontrar sempre um cantinho das “Almas". Muitas vezes um determinado guia nos dá uma vela branca e nos pede para firmá-la na “Cruz das Almas”. Alí é um ponto natural e sagrado de Obaluaê em que as transmutações da casa se concretizam. Onde os casos de doenças, obsessões, problemas emocionais e psicológicos são transmutados na lei de Olorum, nosso criador.

A cruz na Umbanda é um símbolo de ascensão, de conexão entre a matéria física e planos vibratórios transcendentes. As entidades que mais fazem uso deste símbolo são os Pretos Velhos. Seus terços, seu estalar de dedos, seus pontos riscados. Isso demonstra a elevação espiritual que trazem consigo.

Como vimos, a cruz é um símbolo antigo, e os Pretos Velhos são os anciãos da Umbanda. São espíritos velhos, sábios, com tanta elevação que são capazes de transitar em diversos planos sutis da existência. Os terços que carregam consigo trazem a sabedoria de milênios.

Quando montamos o Cruzeiro das Almas dentro do terreiro e colocamos a imagem dos nossos Vovôs e Vovós, seus elementos de trabalho junto as palhas de Obaluaê (Orixá regente das entidades junto com Oxalá), estamos estabelecendo ali um ponto de força  energético e espiritual. É um canal de ligação de nossos rituais umbandistas aos termos mais evoluídos do plano espiritual. Estamos nos conectando com os seres de luz que em gesto de caridade emprestam ao terreiro as mais variadas sabedorias e conhecimentos. Não é a toa que Obaluaê é sinônimo de Evolução e o Pretos Velhos de sabedoria. São os responsáveis por nos nortear, nos conectar nas diversas cruzes da existência. 

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