27 de jun. de 2016

Iemanjá; Rainha das Águas

Iemanjá é um Orixá muito querido e venerado no Brasil Iemanjá. Seu nome deriva de Yèyé omo ejá, que significa “Mãe cujos filhos são peixe”.

Ela é o orixá dos Egbá, uma nação iorubá estabelecida outrora na região entre Ifé e Ibadan, onde existe ainda o rio Yemojá.


É considerada a mãe de quase todos os Orixás Iorubanos, enquanto a maternidade dos Orixás Daomeanos é atribuída a Nanã. Iemanjá seria a filha de Olokun, deus (em Benim) ou deusa (em Ifé) do mar. No Brasil ela é considerada a rainha do mar, mas, entre os iorubas ela seria a princesa.

Ela costuma ser representada com o aspecto de uma matrona, com seios volumosos, sendo símbolo de maternidade fecunda e nutritiva. Também costuma ser representada sob a forma latinizada de uma sereia, com longos cabelos soltos ao vento.

O sábado é o dia da semana que lhe é consagrado, juntamente com outras divindades femininas, e costuma ser saudada com gritos de “Odò Ìyá!!!” (“Mãe do rio”).


Iemanjá costuma ser sincretizada com Nossa Senhora da Imaculada Conceição, festejada no dia 08 de dezembro, e também com a Nossa Senhora das Candeias, festejada no dia 02 de fevereiro, dia em que é realizada uma festa das mais populares do ano, atraindo à praia do Rio Vermelho uma multidão imensa de fiéis e de admiradores de Mãe das Águas, que costumam entregar as suas oferendas á grande mãe das águas.

Mas o culto de Iemanjá é mais intenso durante a última noite do ano, quando centenas de milhares de adeptos vão, cerca de meia-noite, acender velas ao longo das praias e jogar flores e presentes no mar. São seguidores não apenas do candomblé, mas da umbanda e de outras denominações espiritualistas.

Algo interessante, apontada por Verger, em Orixás, é que nessas festas Iemanjá é representada como uma espécie de fada, com a pele cor de alabastro, vestida numa longa túnica, bem ampla, de musselina branca com uma longa cauda enfeitada de estrelas douradas; surgindo das águas, com seus longos cabelos pretos esvoaçando ao vento, coroada com um diadema feito de pérola, tendo no alto uma estrela-do-mar. Rosas brancas e estrelas douradas, desprendidas de sua cauda, flutuam suavemente no marulho das ondas. Ela aparece magra e esbelta, com pequenos seios e o corpo imponentemente encurvado. Uma imagem bem distante da Iemanjá “matrona de seios volumosos”.

Pois Iemanjá foi relacionada a Nossa Senhora, se tornando, então, artificialmente mais importante que as outras divindades femininas, e artificialmente se tornou uma figura unilateral. Mas sobre isso falarei com mais detalhes posteriormente.

Sua popularidade, principalmente entre os brasileiros, povo carente e explorado, se deve ao seu caráter de tolerância e aceitação. As lágrimas são salgadas assim como as águas do mar. E Iemanjá em várias lendas chorou por seus filhos, transformando suas lágrimas em mar.
Iemanjá está associada à maternidade, mas não da mesma forma que Oxum, outra Iabá da maternidade.

Oxum preside a gestação, é a senhora do útero, ovários e liquido amniótico. Iemanjá é personificação da maternidade austera, mas protetora. Ela é a mãe que educa nos lembrando o papel que cada um exerce dentro do núcleo familiar.

Ela é o sentimento de amor entre os entes familiares, ela dá o sentido às uniões por laços consanguíneos. Iemanjá é mais uma face da manifestação do arquétipo da Grande Mãe.

Como símbolo da maternidade e dona das riquezas do mar, ela alimenta seus filhos, com peixes. Em sua face benéfica representa o arquétipo da doadora da vida aquática, detendo toda vida primordial. Em seu aspecto sombrio é aquela que recolhe seus filhos de volta aos seus braços com a morte, embalando-os em suas ondas. Lembrando que o mar além fonte de vida e riqueza, também é um grande cemitério.

O mar, fonte de vida biológica, simboliza o inconsciente, a fonte de vida psíquica. E Iemanjá e as ondas do mar representam os movimentos de progressão e regressão da psique.

O movimento de progressão da libido resulta da necessidade vital de adaptação ao meio. É caracterizado pela extroversão, pelo envolvimento com o objeto e pelo livre fluxo de energia. São as ondas do mar indo em direção a praia e se espalhando na areia.

O movimento de regressão ocorre quando as possibilidades de que dispõe o indivíduo (dentro de suas peculiaridades, dentro de seu tipo psicológico) não são capazes de corresponder a essas exigências ou os obstáculos que se levantam no seu caminho são demasiado fortes, a energia se detém. Acumula-se, fica estagnada e acaba recuando. A marcha retrograda da libido terá por efeito a reativação de conteúdos do mundo interior. Serão reanimados materiais excluídos do consciente, inibidos no inconsciente, por serem perturbadores dos esforços de adaptação ao mundo exterior (Silveira, 1992). São as ondas em seu movimento de volta ao mar.

A regressão é comumente representada em mitos onde o herói é engolido por uma baleia, ou outro animal marinho e fica vagando durante um bom tempo para depois realizar seus feitos. Na regressão o ego retorna a mãe, em um incesto simbólico, de cunho não erótico. Ele é derivado da saudade do acalento do ventre materno, daquele paraíso urobórico.

Esses movimentos são incessantes em nossa vida, e extremamente necessários. O mundo externo, com suas demandas, pode ser muito cruel, por essa razão buscamos constantemente uma pausa, um descanso no oásis proporcionado pelos braços da Grande Mãe. Assim podemos recarregar nossas baterias.

O grande perigo disso reside em querermos ficar eternamente em seus braços e não conseguirmos realizar nosso potencial de individualidade no mundo, nos tornando eternamente dependentes e infantis.

Iemanjá, então, representa os poderes do inconsciente, extremamente sedutor e perigoso. Lembrando que as sereias estão ligadas a Iemanjá e representam um arquétipo extremamente perigoso, onde vários heróis sucumbiram aos seus encantos e ficaram presos na indiferenciação.

O ego deve lutar para não se perder nesse paraíso urobórico e compreender que a regressão e progressão da libido é uma dinâmica constante. A estagnação leva a indiferenciação. Retornar ao inconsciente de tempos em tempos pode ser perigoso, mas se o ego aprende quando é hora de voltar a se espalhar pelo mundo, pode adquirir as riquezas do inconsciente e do mundo mágico de Iemanjá.




Por: Hellen Reis Mourão 
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